Citação

Basta, amar não basta!

texto22
Poucas frases ditas e ouvidas parecem aprisionar tanto quanto “eu te amo”. Às vezes, só de pensar que amamos alguém ou que alguém nos ama já aprisionamos ou somos aprisionados. É como se o amor fosse tudo. Mas, não, não é ou pelo menos não deveria ser. A gente trata o amor como se ele fosse justificativa para tudo. Não no sentido de usar o amor como razão para alguém levar um carro de som para a porta da casa do outro tocando alguma balada da Mariah Carey ou para chamar um homem barbado e peludo de 30 anos de idade de “bebê”, mas no sentido de achar que por alguém nos amar devemos aceitar tudo que ele faça (ou não faça). A pessoa que você ama não tira um tempo para te acompanhar nos eventos que são importantes para você, não te inclui nos programas dela, acha que toda reclamação sua é um drama, marca algo e não aparece, não atende e depois não retorna, não cuida de você nem da relação, mas diz que te ama, então, você tolera tudo. Ele não te ama, mas diz que ama, então, tudo bem! Ele diz que você é importante para ele, mas não faz a mínima questão de te ter ao lado, não na vertical, em um bom abraço, em uma boa conversa, você só interessa na horizontal, em uma cama, de preferência com as luzes apagadas e sem demorar muito, sabe como é, né? Ele é muito ocupado! A gente faz do amor a nossa última esperança de uma vida feliz, então aprendemos a pagar qualquer preço pela ideia de que alguém no mundo nos ama, de que alguém no mundo nos pertence, de que pertencemos a alguém.

E o preço pago por vezes é tão alto que vamos aceitando “cheque sem fundo” como “amor da minha vida”, e só percebemos a furada na hora do “saque”, na hora que precisamos de alguém e descobrimos que não temos. Ou fazemos com que paguem sem merecermos, pois quando percebemos que o outro nos ama ao invés de o tratarmos ainda melhor, achamos, mesmo que inconscientemente, que ele vai ter que provar. Se ele ama mesmo ele vai ter que conhecer o meu pior e continuar amando, ele vai ter que aceitar tudo, se me ama de verdade! Tolice.Transformamos o amor que nos tinham em ódio e ainda deixamos quem nos amava como se a culpa não fosse nossa. Será que você sabe amar? Será que você sabe ser amado? Sentir amor te isenta de agir com amor (se isso for possível)? No amor, no sentimento, no relacionamento, no coração, qual a sua ação para ter e manter um amor? Sei que falar de amor e flores é um pouco brega, mas não temo ser brega, temo ser alguém infeliz.

Se o amor fosse uma flor qual delas você iria preferir ter e ser: um buquê lindo, que a todos encanta, comprado na melhor floricultura, mas que em alguns dias (ou horas) morreria, ou uma flor de plástico, artificial, mas que duraria por todo o sempre, amém, ou uma semente que demoraria para florescer, que viveria o tempo que tivesse que viver, mas seria real, natural e única? Você escolhe, você colhe. Na vida cada um decide com o que a própria vida será gasta, o que desgasta, mas para todos a vida ensina, não basta, amar não basta. Então, não se encante com “eu te amo”, o amor faz feliz quando o outro puder te dizer, sem receio, “eu te mereço”.

Texto escrito por Ruleandson do Carmo, Jornalista, 26 anos, BH/MG, mestre em Ciência da Informação, especialista em Criação e Produção para Mídia Eletrônica, professor do curso de Jornalismo da Ufop. Para saber mais, acesse  Eu só queria um Café.

TCHAU, ATÉ NUNCA MAIS!

texto87 Você sabia, sabia sim. Sabia que mais cedo ou mais tarde eu bateria na porta da sua casa dizendo que não aguentava mais de saudade. Sabia que o amor que eu sentia por você era maior do que qualquer outra coisa. Eu não tinha um pingo de amor próprio e isso era seu maior trunfo. Você sabia que eu assumiria a culpa por todos os erros – até dos seus – e por todas às vezes em que terminei com você por impulso. Devia saber até, do vestido que escolheria para esse dia. Aquele preto, do nosso primeiro beijo. Você deve ter passado noites imaginando o mês que eu iria escolher para tomar essa atitude. Se me sentiria carente no inverno ou se iria desejar seu calor no meu verão. Deve ter ensaiado diálogos imaginários em frente ao espelho e relembrado diversas vezes os motivos que nos separaram – afinal, teria que dizer todos eles mais uma vez na minha cara para me fazer sentir culpada, de novo. E eu, como sempre, pediria desculpa por tudo, pois só assim conseguiria ter você ao meu lado mais uma vez.

Esperar cansa, né? Mas tudo bem, sei que você é paciente. Imagino que você deva ter me visto com outros caras e pensado que era mais um daqueles meus joguinhos de vingança, ora, eu jamais te trocaria, você é insubstituível, né? Deve ter visto meu sorriso e não soube distinguir se era verdadeiro ou se escondia as lágrimas que só tenho coragem de chorar em meu quarto. Deve ter se relacionado com outras garotas e sentido um pouco a minha falta, porque convenhamos você não é um cara fácil e comigo não tinha tempo ruim. Deve ter até desejado que elas interrompessem o seu beijo com um sorriso – exatamente como eu costumava fazer. Ou sendo mais realista, você deve ter simplesmente encarado isso como algo rotineiro, decidindo assim esperar o dia em que eu voltaria rastejando e pedindo pelo seu afeto – mais uma vez.

O que você não deve ter entendido é o porquê da minha demora, já que apesar das minhas tentativas falhas, nunca consegui ficar mais do que três meses afastada de você. Acho que no fundo você nunca imaginou o desfecho que esta história teria. Quer mesmo saber?

Eu amava tudo em você. O seu cabelo bagunçado, sua roupa amarrotada e o seu jeito arrogante de falar. Eu amava os seus dentes brancos, o seu sorriso falso e as vezes em que você fingia prestar atenção no que eu falava. Eu amava a sua mania de me contradizer e de achar que estava sempre certo. Eu amava aquela sensação de insegurança quando você sumia e amava o bater das asas das borboletas quando você voltava. Não vê?

Para mim você não tinha defeito algum, tudo parecia perfeito demais. E o problema é que não posso ao menos culpá-lo por isso. O culpado é o tão temido amor. Ele nos cega e faz com que tudo pareça bem melhor do que é, ou no meu caso, com que pareça alguma coisa.

Essa poderia ser mais uma história clichê onde o garoto só dá valor para a garota quando a perde. Uma pena eu gostar de ser tão do contra, porque minha história termina com uma lição bem diferente.

Eu me valorizei quando te perdi, e quanto a isso, sou muito grata.

Que você seja muito feliz, claro, sem mim.

Isabela Freitas é escritora, blogueira, e exagerada. Louca por histórias de amor, desenhos animados, e bichinhos de rua. Prega o desapego às coisas que não lhe fazem bem, e acredita que o otimismo e palavras bonitas podem mudar vidas. Blog dela!

Renovação Diária

texto58

Nem sempre a realidade se apresenta na forma daquele lindo sonho. Mesmo sem querer, criamos expectativas para tudo na vida. Todo mundo espera pelo príncipe encantado, pelo trabalho dos sonhos, pela família de comercial de margarina light, pelo cabelo da modelo no comercial de shampoo, pelos milagres prometidos nas capas de revista. Mas o dia a dia pode ser duro, o mundo real pode se mostrar um pouco mais cruel que os sonhos adocicados. Frequentemente esquecemos que a perfeição só existe naquele filme que está em cartaz no cinema pertinho da sua casa. Não entendo essa nossa mania desumana de querer que tudo seja sempre especial, único e intenso. A rotina não tem nada de bonita. As pilhas e pilhas de relatórios em cima da sua mesa só acumulam. O cachorro continua fazendo xixi na perna do sofá. O telefone continua sem tocar. Você segue esperando alguma coisa boa cair do céu no seu colo macio e sedoso.

Será que o erro não está aí dentro? Será que não é a hora certa de rever atitudes, pensamentos e conceitos? Será que não estamos querendo um mundo ideal e por vezes esquecemos que muitas coisas estão, sim, em nossas mãos e que outras tantas não dependem de nós? Será que esquecemos que, sendo seres imperfeitos, não podemos cobrar a perfeição dos outros? Será que não queremos frios na barriga diários, fogos de artifício e trilhas sonoras para momentos simples? Será que não estamos cegos?

Coisas boas acontecem todos os dias, é só abrir os olhos e o coração para a infinidade de pequenas alegrias. Não adianta buscar emoção, sonho e fantasia se você não sabe fazer um momento aparentemente simples virar especial. Tudo está dentro de nós e eu te garanto que isso não é papo para boi dormir. Não espere grandes acontecimentos, aprecie tudo que a vida oferece com um sorriso no rosto. Não espere uma cena de filme, faça e viva a sua vida da forma que puder e souber. Mas entenda que os melhores momentos acontecem quando estamos distraídos pensando que a vida do outro é bem mais interessante que a nossa.

Sobre a autora: Clarissa Corrêa escritora. Escrever crônicas, contos, receitas, bilhetes, cartas, cartões, títulos, textos. É redatora publicitária e autora do livro de crônicas “Um pouco do resto”. blog dela.

Doses de realidade

texto83Ando um pouco assustada com a vida. As pessoas, por mais que eu não queira, vivem me surpreendendo. Algumas para o bem e outras para o mal. Sei que ninguém é santo nem demônio. Também sei que expectativas são apenas expectativas. Mas as pequenas decepções ocorrem diariamente, é inevitável. Eu decepciono você decepciona, eles decepcionam. E assim a vida segue um pouco decepcionada, mas com um tantinho de fé.

O mundo nunca vai ser um lugar seguro, tranquilo e mágico. Nada é como nas telas de Hollywood, nosso filme não anda em slow motion nas principais cenas, não existe a palavra perfeita, sua música preferida não começa a tocar em momentos especiais, você não é uma diva de cinema, o mundo não para você se recompor, nada é para sempre e nenhum sofrimento é eterno. É bem isso: nada é para sempre e nenhum sofrimento é eterno. Tudo tem fim, inclusive alegrias e tristezas. Sei que parece meio duro dizer isso, não pense que estou descrente, a realidade me visita de vez em quando e tenho essas crises de franqueza. É que não dá para viver de sonho, de luz, de esperança. Precisamos, também, viver de realidade e enxergar as coisas como elas são.

A vida é como um parque de diversões, nós somos crianças no gira-gira. Em alguns momentos ficar girando é legal, damos risadas, sentimos friozinho na barriga, ficamos felizes. Em outros momentos aquela “giração” toda começa a dar enjôo, aflição, tontura. Então precisamos parar, aceitar aquela tontura toda pegá-la no colo e fazê-la passar. Quando tudo se acalma decidimos se queremos tentar de novo ou não. A vida também é uma gangorra: uma hora estamos lá em cima, vendo o mundo sob outro prisma, abraçando as nuvens e outra hora estamos lá embaixo, com os pés no chão, avistando o horizonte de frente. A vida é um balanço: nós vamos para a frente e para a trás. Buscamos impulso, força, estímulo para seguir e recuamos, para pedir ajuda ao passado e andar de encontro ao futuro. A vida também é escorregador: subimos degraus, chegamos ao topo e num piscar de olhos descemos até o chão. Muitas vezes a queda é violenta, caímos de boca no chão, comemos areia, ralamos joelhos e cotovelos, nos machucamos e choramos.

Asperezas sempre existirão, bem como adversidades. Nada é bom para sempre, nada é ruim eternamente. Dias bons e ruins irão nos acompanhar até o último dia de nossas vidas. O grande questionamento é: como viver esses dias? O que fazer com eles? Como suportar medos e conflitos? Simples: vivendo. Não é sobrevivendo, é vivendo mesmo. Precisamos fazer o que podemos fazer. Nem mais, nem menos. Temos que encarar medos, sustos, passado, angústias, desamores e seguir. Encontrar algo que estimule e procurar viver da melhor forma que conseguirmos. Não dá para se achar mártir, não dá para desistir, não dá para pensar que nada tem jeito. As coisas têm, sim, jeito. Talvez não aquele que queremos, sonhamos ou desejamos. Mas tudo tem uma saída. Nossa grande missão é achá-la.

Sobre a autora: Clarissa  Corrêa escritora. Escreve crônicas, contos, receitas, bilhetes, cartas, cartões, títulos, textos. É redatora publicitária e autora do livro de crônicas “Um pouco do resto”. blog dela.

O que ainda não aprendi

texto102Sempre ouvi dizer que a vida ensina e que o tempo cura tudo. Mas hoje preciso te contar que certas coisas a vida ainda não fez o favor de me ensinar e que o tempo se atrasou e ainda não veio me libertar de uns desejos. (…) O tempo nem sempre cura tudo. Tenho feridas que já cicatrizaram, mas que insistem em latejar quando o dia está nublado. Tenho mágoas que já foram superadas, mas se lembro bem, se lembro forte, se penso nelas eu choro. E o choro dói, dói, dói como se fosse ontem. Tenho vontades que nunca passam. Tenho uma tara por chocolate e queijo que nunca saiu de viagem. Tenho mania de escrever em blocos e ter pelo menos dois deles sempre dentro da bolsa. Tenho sentimento de posse, tenho ciúme, tenho medo de perder quem é essencial na minha vida. Tenho medo de me perder, por isso acendo todas as luzes.

A vida me ensinou a perdoar os outros. Mas fez questão de me mostrar que a gente pode perdoar sem esquecer. Minha memória é boa, sei quem pisou na bola. Aceito que as pessoas errem uma ou dez vezes, desde que se arrependam com o coração. Arrependimentos da boca para fora nunca me convenceram, apesar de eu já ter caído em ladainhas toscas sem fim. A vida ainda não me ensinou a me perdoar. Me condeno, me mando para a cadeia, para a solitária, como pão e água. Cumpro minha pena e nem assim descanso. E eu não sei pedir. Meu Deus, eu não sei pedir ajuda. Nunca gostei de depender dos outros. E tem mais: não consigo dizer eu-preciso-de-você-agora. Sei que é simples, mas não sai. Algo me trava, a voz não sai.

Tenho um orgulho que não me deixa. Acho que tenho que ser a fortona do pedaço, que consigo me reconstruir, me levantar sem dar a mão para ninguém. Não gosto de admitir nem assumir fraquezas nem de demonstrar a minha própria fragilidade. As pessoas fazem SOS a todo instante. Choram, pedem, imploram, suplicam. Não consigo. Para mim isso é traição. Não consigo chegar para a outra pessoa e falar tô-acabada-tô-precisando-não-vou-conseguir-sozinha. Sinto um terror só de pensar.

Ninguém nunca me disse que eu precisava ser forte. Um dia, sei lá quando, eu resolvi que ia ser. Sempre fui aquela que ouviu todo mundo, automaticamente achava que tinha que dar força para os outros. É claro que mil vezes peguei o telefone chorando perguntando o-que-eu-faço. Mas isso é quando eu era adolescente e estava arrasada porque algum bonitão me deu o fora. Meus assuntos sérios e profundos eu nunca soube dividir. Penso que a vida é minha, o problema é meu, ninguém tem que ouvir minhas lamúrias, tristezas, coisas chatas e ruins. Penso que me viro sozinha. Penso que me resolvo comigo, que dou um jeito, que consigo.

Quer saber uma verdade? Isso cansa. Vejo tanta gente dizendo que eu sei tudo, que eu posso ajudar, que isso, que aquilo. Eu não sei nada, apenas me sintonizo com minhas emoções. Não posso ajudar em nada, apenas escuto o meu coração. Ele fala tanto que deixa tonta. Cansei de ser forte, cansei de não saber pedir ajuda, cansei de tentar fazer tudo ao mesmo tempo, cansei de não conseguir dormir direito pensando no que preciso comprar para a faxineira, cansei de tomar café pensando no que me espera na agência, cansei de não conseguir sossegar meu pensamento, cansei de esconder meu lado frágil, inseguro, cansado. Cansei de aceitar as minhas imperfeições sozinha. Por favor, me aceite também.

Sobre a autora: Clarissa  Corrêa escritora. Escreve crônicas, contos, receitas, bilhetes, cartas, cartões, títulos, textos. É redatora publicitária e autora do livro de crônicas “Um pouco do resto”. blog dela.